Haram (O Livro) e Sua Saga
"Você pode levar o cavalo até o rio, mas não pode obrigá-lo a beber água"
Já ouvi este ditado em diversos contextos mas, provavelmente, desconheço lugar em que ele esteja mais bem inserido do que na publicação de livros. Porque é exatamente assim. As pessoas podem pensar que o difícil é escrever, compor uma obra. Não sei como os outros fazem mas, para mim, essa parte é fácil. Prazerosa, divertida. Colocar as ideias por escrito, escrever, é muito simples. Sai, flui, alivia, alegra. É bom terminar e ver as letrinhas alinhadas, as palavras postas, as ideias costurando isso. É bom saber que se produziu algo. Próximo passo? Bom, nos filmes é simples: você envia uma cópia impressa ou virtual do seu livro para uma editora, alguém a avalia e, certo dia, você recebe um telefonema ou um email te fazendo uma proposta de publicação. Parece um bom plano. Para aumentar as chances, enviei o Haram, Montes Marlic, para todas as editoras que consegui o contato. Apenas para constar, devem ter sido umas cinquenta no Brasil. Pelo menos a metade delas tem uma chamada do tipo "quer publicar conosco? Venha ser um novo escritor da nossa casa", ou algo assim. Em termos práticos isso é mentira. Nada me convence do contrário.
Por que digo isso? Vamos aos fatos: mais da metade das editoras simplesmente não responde. Ignora você. Algumas dão respostas vagas, tipo "o seu livro não se enquadra na nossa linha editorial". Como assim? Uma editora que publica Cornwell, Marion Zimmer Bradley, J K Rowling, Riordan, Lewis não acha que o Haram esteja nesta linha editorial? Bobagem. Eu aceitaria tranquilamente algo do tipo "seu livro é ruim, você escreve mal e deveria escolher outra forma de gastar o tempo". Significaria que foi lido e não gostaram. Mas foi apreciado, visto por alguém. Acredito que o destino dos manuscritos enviados é uma lixeira, sem escalas na mesa de ninguém. E a resposta é pró forma. Na verdade, justiça seja feita, recebi apenas uma sondagem: uma certa editora (na verdade incerta, até esqueci propositalmente o nome) me fez uma oferta. Perguntaram-me se eu não tinha, por acaso, "algo escrito sobre auto ajuda para a terceira idade". Devem ter visto meu curriculo. Óbvio que não respondi. Alguns diriam que eu deveria ter respondido. Talvez fosse uma forma de começar. Será?
Eventualmente fui direcionado para a Editora Chiado, de Portugal. Não como nos filmes: na vida real os livros precisam ser pagos. O custo de publicação fica por conta do autor. Você recebe, no pacote, um número de exemplares e os comercializa como quiser. A editora faz o mesmo, divulga seu livro no site e em outros locais. No caso, parecia uma boa ideia. Não era um investimento barato, mas estava dentro das minhas possiblidades. A promessa era colocar nas grandes lojas virtuais do Brasil, para venda aqui. Fiz o contrato. Saiu o livro, aquele ali acima, a capa com a marca da Editora, à esquerda. Emocionante ver meu nome em letras de forma. Lancei na Feira do Livro de Santa Maria. Fui a Rosário fazer um lançamento. Fui a Três Passos, na feira do livro de lá. Coloquei nas minhas redes sociais. Fui à Passo Fundo também. Tudo por conta de alguns amigos e oportunidades. A Chiado colocou à venda. Na sua loja, em Portugal, e no site. Até onde me informaram, venderam 3 exemplares lá. Achei bastante. Quem compra autores desconhecidos que não são promovidos? E no Brasil? Bom... o livro nunca deu as caras. Não foi colocada à venda em nenhum lugar. Desculpas aos montes. Cada vez que reclamei fui colocado em contato com pessoas diferentes, todas "representantes da editora para o Brasil". Faziam o contato inicial, ficavam de retornar e nunca retornaram. Dois anos assim, cansei, solicitei rescisão contratual. Surpresa: extremamente rápido, em menos de uma semana eu estava completamente liberado. O dolorido foi assinar um documento autorizando a editora a destruir todas as cópias não vendidas que eles, por ventura, tivessem em estoque. Foi como autorizar a eutanásia de um filho. Mas, enfim, o drama é meu: provavelmente não haviam cópias impressas.
Bom, mas a vida continua. Vamos procurar onde publicar. Recomeço a peregrinação e tenho respostas (ou a falta destas) exatamente como antes. Até me deparar com a Editora Schoba. Contato rápido, proposta parecida com a da Editora Chiado. Mas essa é brasileira, deve ter uma boa distribuição. Novamente pago por todo o processo. As coisas andam, as capas ficam ótimas (eu achei por bem reeditar o primeiro volume, assim como lançar o segundo) como vocês podem conferir acima. Mas surgem problemas com atrasos, prazos, crise financeira brasileira. Muitos contatos, muitos conselhos de amigos. A sugestão mais comum foi a de processar a Editora. Mas como vou trabalhar com os caras se começo abrindo um processo? Muita dor de cabeça, alguns pensamentos, umas propostas tomaram forma. Renegociamos e as coisas estão indo. Resolvi ser mais ativo no gerenciamento do que publico. Daí este site. Daí os livros impressos e disponibilizados por mim.
Então é isso: este site é uma aventura nova. Algo que nunca fiz. E faço porque acredito que o que um autor escreve merece ser lido. Você pode não gostar, mas até para poder dizer que não gosta, precisa conhecer o trabalho. E eu acredito no Haram. É estranho um autor falando de seu próprio livro? É. Quase uniformemente eles se esquivam disso. Não sou exceção. Ainda assim, se não acreditasse que há algum valor, alguma qualidade, não o publicaria. Só quero a chance, honesta, de colocar estes livros no mercado. O resto, veremos. Como eu disse, é uma aventura. E a imprevisibilidade faz parte do espírito aventuresco. Então... veremos!